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HIPNOSE

O hipnotismo sempre flertou com o mistério. Na ficção, frequentemente aparece associada ao ilusionismo, ao charlatanismo e ao curandeirismo, como ferramenta de manipulação, dominação e exploração. Em tempos mais recentes, virou show nos palcos de teatros e nos programas de TV. Mas, originalmente, o propósito da hipnose foi a cura dos distúrbios da mente. Em terapia, essa prática é um eficiente meio de acesso ao inconsciente, permitindo a ressignificação de experiências e crenças, além de promover benefícios à memória, à concentração, à organização de ideias e à criatividade

CONCEITO/APLICAÇÃO

Ainda que o fenómeno seja real e seus benefícios facilmente verificáveis, o conceito teórico de hipnose é impreciso. Há duas correntes de pensamento principais acerca da descrição técnica desse fenômeno: as teorias de estado, que consideram a hipnose como um estado alterado de consciência, e as teorias de não-estado, que a consideram um estado de atenção concentrada, que ocorre naturalmente e com frequência.

Nas teorias de estado, entende-se que as induções hipnóticas são capazes de criar uma divisão das funções executivas do cérebro humano, como na teoria neodissociativa de Ernest R. Hilgard. A perspectiva de desconexão com a realidade imediata, a partir de experiências físicas e emocionais, está apoiada no conceito de dissociação defendido pelo filósofo e psicólogo Pierre Janet. Há atualmente várias pesquisas que parecem confirmar as teorias de estado. Milton Erickson foi um dos primeiros pesquisadores e talvez o mais hábil terapeuta a conceber a hipnose como estado dissociativo, decorrente de uma intensa concentração. Sua atividade terapêutica se apoiava essencialmente na empatia entre o paciente e o terapêuta e no questionamento cruzado a fim de induzir o paciente à livre manifestação do inconsciente.

O clássico behaviorismo é um exemplo expoente das teorias de não-estado. Trata-se de uma corrente de pensamento da psicologia que se apoia na ideia do comportamento como elemento central e consequente dos reflexos condicionados por punição e recompensa. O psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner considerava que o livre-arbítrio era uma ilusão e que as ações humanas dependiam das consequências de ações prévias. Assim, os comandos hipnóticos gerariam reflexos condicionados por transferência de significado.

O poder da hipnose está, na verdade, dentro do paciente, conforme afirma o famoso psicólogo americano Brian Alman. De acordo com ele, a atitude do paciente é crucial para o êxito do tratamento. Roberta Temes, hipnotizadora clínica, explica que a hipnose não tem poder de fazer com que as pessoas façam aquilo que não estão dispostas a fazer e o fenômeno só é bem-sucedido quando empregado para ajudar aquelas pessoas que realmente querem promover uma mudança em suas vidas.

Em termos práticos, a hipnose é capaz de treinar a mente para controlar as reações do corpo, assim como modificar as mensagens que o corpo envia à mente. Seu emprego é eficiente no tratamento de ansiedades, medos, fobias, problemas de memória e de concentração, bem como angústia, compulsões, dores, problemas de relacionamento e dificuldade de argumentar ou falar em público. O objetivo primordial da hipnose terapêutica moderna é ajudar os pacientes a lançar mão do potencial que está no inconsciente.

HISTÓRIA

A origem da hipnose é totalmente distinta dessa aplicação popular propagada nos meios de comunicação e nos negócios do entretenimento. Ela nasceu do trabalho de médicos além de sua época, que buscavam formas de entender o funcionamento da mente humana para conseguirem curar seus pacientes.

Johann Joseph Gassner conduzia as mais famosas sessões de exorcismo da Europa na década de 1760. O padre austríaco atendia todos aqueles que não haviam encontrado a cura para seus tormentos através da medicina. O religioso acreditava que sintomas como febres, dores e convulsões eram fenômenos consequentes de possessões demoníacas e só a expulsão do espírito malévolo poderia devolver a paz ao enfermo. Em suas sessões, o padre utilizava orações, objetos santos, ordens gritadas, sussurros de conforto, gestos e rituais santos. Em geral, os doentes se agitavam no desenvolver da sessão para logo em seguida acalmarem-se, supostamente curados do mal.

No ápice do pensamento iluminista, que tentava interpretar fenômenos de qualquer natureza de forma racional e avessa às crenças religiosas, os críticos da abordagem de Gassner chegaram a formar comissões para tentar desmascarar o padre. No início da década de 1770, uma dessas comissões foi conduzida pelo médico radicado em Viena, Franz Anton Mesmer que, após presenciar uma série de atendimentos do Padre Gassner, acreditou em seu poder de cura, mas atribuiu ao fenômeno da cura uma explicação física. Há anos o médico de Viena defendia a existência de um fluído cósmico universal invisível, capaz de conectar forças do espaço, da terra e do homem e o desequilíbrio dessas forças seriam a causa dessas doenças. Assim, o reequilíbrio desses elementos restauraria a saúde do enfermo. Ao observar o padre principalmente utilizando o crucifixo, Mesmer entendeu que esses rituais alteravam o “magnetismo animal”, reequilibrando e curando o indivíduo. De volta a Viena, Mesmer adaptou e desenvolveu a prática de Gassner, seguindo rituais muito parecidos, mas utilizando-se dispositivos e materiais como água e limalha de ferro que pudessem magnetizar o corpo humano. O médico de Viena não apenas desenvolveu a técnica como a difundiu seus preceitos, que inclusive serviram de base a diversas outras doutrinas, como o espiritismo – Louis Claude de Saint-Martin foi aluno de Mesmer e, anos mais tarde, o decodificador do espiritismo, Allan Kardec, destacou a significativa influência da teoria do “magnetismo” para a doutrina.

O “magnetismo” ou “mesmerismo” teve muitos adeptos, mas também levantou muitas dúvidas das classes médicas e, na tentativa de desmascarar uma “má intensão” de seu criador que, de acordo com os registros históricos, nunca existiu, levou diversos expoentes da medicina a estudar seus métodos e resultados. Com o tempo, muitos encontraram ali evidências de abordagens que efetivamente surtiam resultados de cura, se não pela ideia original de um “magnetismo animal”, pelo procedimento em si. Eram então posicionados os primeiros blocos do pavimento que conduziria à hipnose como hoje a conhecemos. Nesse caminho, seguiram diversos médicos que deixaram sua marca na história do tratamento da psique humana, como James Braid, Josef Breuer, Jean-Martin Charcot e Sigmund Freud, até chegarmos ao Dr. Milton Erickson, o qual foi profundamente estudado por Richard Bandler e John Grinder ––a Hipnose Ericksoniana é um dos pilares da Programação Neurolinguística.

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